Imaginário e Pensamento

Este é o título de um artigo interessante sobre o papel da televisão escrito pela pesquisadora Maria Rita Khel. Há a discussão sobre a relação do conteúdo da TV e qual a influência disso no processo de formação das crianças.

A televisão mostra um mundo de experiências que a criança ainda não viveu. Mesmo que vivesse, jamais viveria daquela forma. Ao passo que, tudo o que ela vê, vem pronto como se realizasse todos os seus desejos. É uma mãe que não frustra.

Os produtos anunciados mostram a satisfação e a aceitação de uma única vez: “Você tem o que lhe dou e satisfará todos os seus desejos. Você tem o que lhe dou e fará parte de um grupo que aceitará você. Mesmo que depois você perceba que a vida não é nada disso e que você não precisa ser igual aos outros para ser feliz.”

Este tipo de atitude contribui para o “parar de pensar” tão alardeado pelos contrários à televisão. Pois, esta “ditadura do gozo”, a felicidade como conseqüência do prazer máximo, afasta o exercício do pensar. O pensamento é a conseqüência da ausência de prazer.

A TV revela um mundo de experiências que, além de confundirem as crianças, empobrecem suas experiências de vida. Como exemplo, peguemos uma pequena faixa da programação televisiva. Num momento ela assiste a um desenho animado onde o personagem principal “morre” e “ressuscita” diversas vezes. Depois ela assiste à novela onde o bandido, tem como principal castigo a morte – já perceberam que nas novelas os “maus” nunca se redimem de seus erros? – e então assiste ao telejornal onde cinco pessoas foram mortas numa chacina. Até que ponto ela é capaz de discernir que desenho não é real e as pessoas só morrem uma vez, que as pessoas são capazes de se redimirem e que os cinco mortos foram conseqüência da violência urbana?

Em relação às experiências de vida, a televisão jamais irá suprir as experiências reais das crianças. Brincar, cair e se machucar; receber carinho dos pais, entender a relação entre ela e as outras crianças, tudo isso trará dimensões da realidade que a televisão não é capaz de proporcionar.

Aqui entra o pensamento. São essas experiências que trazem satisfações e frustrações às crianças e, nesse momento, ela começa a indagar sobre essas questões. De onde veio, para onde vai, quem ela é e como o mundo funciona. A televisão responde a essas questões através do consumo “Você é aquela que adora a Xuxa e compra sua sandalinha” e aplaca a angústia das crianças. Ela deseja algo e não sabe o que, ela quer ser amada e não sabe como, ela quer ser aceita e não sabe de que forma. A televisão vem e lhe responde: “Você quer essa sandália, sua mãe a ama porque lhe deu a sandália e todos gostam de você porque você tem a sandália. Viu como eu tenho e lhe dou tudo o que precisa?”

Logo, a criança sofre violência bem em frente ao seu nariz, todos vêem e ninguém quer enxergar. Pois, como bem disse Maria Rita Khel, “A diminuição das experiências é uma violência invisível.”

A responsabilidade de pais e mestres
Os programas educativos
Imaginário e Pensamento
Um olhar infantil

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